sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Narração


Narração -  estrutura e gêneros

Narrar é contar um ou mais fatos que ocorreram com determinadas personagens, em local e tempo definidos.Tem por objetivo contar uma história real, fictícia ou mesclando dados reais e imaginários. Baseia-se numa evolução de acontecimentos, mesmo que não mantenham relação de linearidade com o tempo real. Sendo assim, está pautada em verbos de ação e conectores temporais.A narrativa pode estar em 1ª ou 3ª pessoa, dependendo do papel que o narrador assuma em relação à história.

Entre os tipos de textos mais conhecidos, estão o Romance, a Novela, o Conto, a Crônica, a Fábula, a Parábola, o Apólogo, a Lenda, Poemas Narrativos, Histórias Em Quadrinhos, Piadas, Letras Musicais,entre outros.

Os Elementos da Narrativa

Os elementos que compõem a narrativa são:
- Foco narrativo (1º e 3º pessoa);
- Personagens (protagonista, antagonista e coadjuvante/ ou secundários);
- Narrador (narrador- personagem, narrador-observador ou narrador onisciente ).
- Tempo (cronológico e psicológico);
- Espaço.

Os elementos do Enredo:

- Apresentação;
- Complicação ou desenvolvimento;
- Clímax;
- Desfecho

Os Elementos da Narrativa

FOCO NARRATIVO

O narrador é o dono da voz ou, em outras palavras, a voz que nos conta os fatos e seu desenvolvimento. Dependendo da posição do narrador em relação ao fato narrado, a narrativa pode ser feita em primeira ou em terceira pessoa do singular.
Temos assim, o ângulo, o ponto de vista, o foco pelo qual serão narrados os acontecimentos (daí falar-se em foco narrativo).

• Narrador-personagem: 1ª pessoa
• Narrador-observador: 3ª pessoa
• Narrador-onisciente: 3ª e 1ª pessoas.

Cada uma das histórias que lemos, ouvimos ou escrevemos, é contada por um narrador. Nos exercícios de leitura, assim como nas experiências de escrita, é fundamental a preocupação com o narrador. A grosso modo, podemos distinguir três tipos de narrador, isto é, três tipos de foco narrativo:

- narrador-personagem;
- narrador-observador;
- narrador-onisciente.

O narrador-personagem conta na 1ª pessoa a história da qual participa também como personagem. Ele tem uma relação íntima com os outros elementos da narrativa. Sua maneira de contar é fortemente marcada por características subjetivas, emocionais. Essa proximidade com o mundo narrado revela fatos e situações que um narrador de fora não poderia conhecer ao mesmo tempo essa mesma proximidade faz com que a narrativa seja parcial, impregnada pelo ponto de vista do narrador.

Exemplo:

Andava pela rua quando de repente tropecei  num pacote embrulhado em jornais. Agarrei-o vagarosamente, abri-o e vi, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.
O narrador-observador conta a história do lado de fora, na 3ª pessoa, sem participar das ações. Ele conhece todos os fatos e por não participar deles, narra com certa neutralidade, apresenta os fatos e os personagens com imparcialidade. Não tem conhecimento íntimo dos personagens nem das ações vivenciadas.

Exemplo:

João andava pela rua quando de repente tropeçou num pacote embrulhado em jornais. Agarrou-o vagarosamente, abriu-o e viu, surpreso, que lá havia uma grande quantia em dinheiro.
O narrador-onisciente  (oni + sciente, ou seja, "o que tem ciência de tudo", "o que sabe de tudo") conta a história em 3ª pessoa, às vezes, permite certas intromissões narrando em 1ª pessoa. Ele conhece tudo sobre os personagens e sobre o enredo, sabe o que passa no íntimo das personagens, conhece suas emoções e pensamentos.
Ele é capaz de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de consciência, em 1ª pessoa. Quando isso acontece o narrador faz uso do discurso indireto livre. Assim o enredo se torna plenamente conhecido, os antecedentes das ações, suas entrelinhas, seus pressupostos, seu futuro e suas conseqüências. Perceba como fica claro esse procedimento neste trecho de O Cortiço de Aluísio de Azevedo ,em que o narrador apresenta características mais subjetivas da personagem narrada, assim como consegue estar em diferentes pontos do cenário ao mesmo tempo:

Exemplo:

A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca. Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas.

OS PERSONAGENS

Os personagens são aqueles que participam da narrativa, podem ser reais ou imaginários, ou a personificação de elementos da natureza, idéias, etc.Dependendo de sua importância na trama os personagens podem ser principais ou secundários.
Há personagem que apresenta personalidade e/ou comportamento de forma evidente, comuns em novelas e filmes, tornando-se personagem caricatural.
EXEMPLO :
Macunaíma
“No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.”
Um parêntese: este texto fala sobre a personagem, mas também poderia falar sobre o personagem. Personagem é um substantivo de dois gêneros. Isso quer dizer que podemos usá-lo indiferentemente no masculino ou no feminino. No caso da ficção, de que vamos tratar, há uma leve tendência entre os estudiosos a usar o substantivo no feminino. Fecha-se o parêntese.
Seja a personagem, ou o personagem, o fato é que falamos de uma entidade literária que vive a ação
Vejamos algumas definições de personagem dadas pelo "Dicionário Houaiss da Língua Portugesa":

•  pessoa fictícia posta em ação numa obra dramática,
•  imagem que representa uma pessoa,
•  personagem que figura numa obra narrativa,
•  figura humana imaginada pelos autores de obras de ficção,
•  o homem definido pelo seu papel social ou comportamento.

Por exemplo, Macunaíma (que dá título ao romance de Mário de Andrade) é uma personagem que vive uma história, e não uma pessoa que vive a vida real.
As personagens definem-se em função do seu relevo ou intervenção na ação:
– personagens principais ou protagonistas - as que assumem o papel mais importante;
As Personagens Principais são aquelas que desempenham o papel central, sendo fundamentais para o desenvolvimento da trama. Podem ser classificados em Protagonistas e Antagonistas.De forma simplificada, podemos dizer que o protagonista é aquele que deseja algo, enquanto ao antagonista cabe impedir, dificultar, ou destruir esse objeto de desejo. O protagonista de um texto de ficção pode ter qualidades muito elevadas. Pode ser forte, ou virtuoso, ou inteligente ou corajoso ao extremo. Neste caso, ele é um herói. Mas pode ser que o protagonista não tenha as qualidades do herói muito pelo contrário. Nesse caso, ele é um anti-herói.
Um exemplo de anti-herói é Macunaíma, do romance de Mário de Andrade, que o próprio autor afirma ser um "herói sem nenhum caráter".
O antagonista nem sempre é uma pessoa, podendo ser um objeto, um animal, ou mesmo uma situação financeira, cultural, social (pobreza, instrução, trabalho), um problema físico ou ainda uma peculiaridade psicológica, que dificulta o acesso àquilo que o protagonista deseja
– personagens secundárias - as que têm uma intervenção menor;
– figurantes - as que não têm qualquer interferência na ação.
 As Personagens Secundárias podem ser classificadas em Coadjuvantes e Figurantes.
As Personagens Coadjuvantes são aquelas que assumem um papel de menor importância, mas não deixam de ser importantes para o desenrolar da trama, já que dão suporte à história tecendo pequenas ações em torno das personagens principais.
Já as Personagens Figurantes tem como único objetivo ilustrar um ambiente ou o espaço social do qual são representantes durante o desenrolar de uma ação da trama.
• A identificação de uma personagem corresponde à atribuição de um nome.
• A caracterização das personagens revela-se através de um conjunto de atributos, traços, características físicas e psicológicas – retrato físico e retrato psicológico - moral.
• Quando as características físicas e psicológicas das personagens são apresentadas pelo narrador, pelas outras personagens ou pela própria personagem, fala-se de caracterização direta; quando as características psicológicas ou morais podem ser deduzidas a partir das atitudes, do comportamento, das emoções, da maneira de falar das personagens, fala-se de caracterização indireta.
• Relativamente à construção da personagem, ela poderá ser construída sem profundidade e com um reduzido número de atributos - personagem plana (repete, por vezes com efeitos cômicos, gestos, comportamentos, «tiques» verbais); ou poderá possuir complexidade bastante para revelar uma personalidade vincada - personagem modelada (revela o seu caráter gradualmente e de forma imprevisível).


O TEMPO

A duração das ações apresentadas numa narrativa caracteriza o tempo (horas, dias, anos, assim como a noção de passado, presente e futuro). Distinguem-se três espécies de tempo: o tempo cronológico, o tempo histórico e o tempo psicológico.
O tempo pode ser cronológico também chamado de tempo linear, fatos apresentados na ordem dos acontecimentos.Tempo cronológico é o contado no relógio, horas, dias , anos, numa ordem linear de tempo. Uma sequência em sentido horário.
Exemplo: Hoje, acordei, tomei café e me vesti para ir trabalhar. Como peguei um engarrafamento enorme, terminei chegando atrasada.
O tempo histórico engloba o enquadramento histórico dos acontecimentos, ou seja, revela-se nas indicações cronológicas que inserem a ação numa determinada época histórica.
O tempo pode ser psicológico – ou ordem não-linear, tempo pertencente ao mundo interior do personagem.Tempo psicológico, é "mental" , não segue uma ordem linear, sequêncial.
. Quando lidamos com o tempo psicológico a técnica do flashback é bastante explorada, uma vez que a narrativa volta no tempo por meio das recordações do narrador
Exemplo: Estive relembrando os tempos em que corria descalça na terra batida do quintal da casa grande no sítio da minha vó. Senti por alguns instantes o cheiro de terra molhada quando chovia... A memória nos faz reviver tempos que jamais voltarão.

O FLASHBACK LITERÁRIO

Estudos Literários

Flashback (também chamado de analepsis; plural, analepses) é uma interrupção na sequência temporal de um filme, narrativa ou peça de teatro, que leva a narrativa de volta no tempo a partir do ponto em que a história chegou, a fim de apresentar o relato de eventos passados. Realiza-se da seguinte maneira: a ação do presente é interrompida de forma instantânea e uma cena anterior é mostrada ao espectador ou leitor. A técnica é usada para criar um suspense ou um efeito dramático mais forte na história, ou ainda, para desenvolver um personagem.
A série de televisão Lost é particularmente conhecida pelo uso excessivo de flashbacks em quase todos os episódios. Cada episódio se concentra em um único personagem e seus conflitos na ilha que se relacionam, por meio do flashback, com seus conflitos antes dele chegar à ilha.
Muitos autores têm apresentado o flashback com inovações, como o escritor americano, William Faulkner (1897-1962) que faz o flashback dentro de outro flashback, voltando a dois planos narrativos do passado.
Machado de Assis, no seu romance Memória Póstumas de Brás Cubas, narra uma história de trás para diante. Começa com a morte da personagem contada por ela mesma. Por meio do Flashback, a narrativa vai se refazendo para o passado, com os dados das personagens que vão surgindo. O romance se fecha por onde começou com a morte da personagem. É o chamado romance fechado em círculo:
"Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, de que uma ideia grandiosa e útil, a causa de minha morte, é possível que o leitor não me creia, e, todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso julgue-o por si mesmo."

ESPAÇO

O espaço é o lugar ou lugares onde decorre a ação.

• Distinguem-se três tipos de espaços, que nem sempre se encontram em todas as narrativas: o espaço físico, o espaço psicológico e o espaço social. A multiplicidade dos espaços ocorre apenas nas narrativas de maior extensão e complexidade, como a epopeia e o romance.
• O espaço físico é o conjunto dos componentes físicos que servem de cenário ao desenrolar da ação e à movimentação das personagens. Assim,o espaço físico integra os cenários geográficos (espaço físico exterior) e os cenários interiores, como as dependências de uma casa, a sua decoração,os objetos, etc. (espaço físico interior).
O espaço físico pode constituir apenas o cenário da ação ou ter também uma função importante na revelação do caráter e do comportamento das personagens. Neste caso, convém considerar a variedade dos aspectos do espaço: se abrange ou não uma grande extensão, se identifica geograficamente determinada região, se é um espaço natural ou construído pelo homem, rural ou urbano, no país ou no estrangeiro.
• O espaço psicológico é a vivência do espaço físico pelas personagens ou o lugar do pensamento e da emoção das personagens. Assim, por exemplo, locais evocados pela memória correspondem ao espaço psicológico. Por outro lado, em relação ao mesmo espaço, a personagem pode experimentar diferentes sentimentos, conforme o seu estado de espírito ou condições exteriores, como as condições atmosféricas.
• O espaço social consiste nas relações sociais, econômicas, políticas e culturais entre as personagens. Constitui-se através das personagens figurantes e das personagens-tipo, correspondendo à descrição de um determinado ambiente que ilustra, por exemplo, vícios e deformações de uma sociedade, servindo então para expressar uma intencionalidade crítica.
• A descrição é o modo de representação das três espécies de espaço.


Nenhum comentário:

Postar um comentário